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"Desde a idade de seis anos eu tinha mania de desenhar a forma dos objetos. Por volta dos cinquenta havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo que produzi antes dos sessenta não deve ser levado em conta. Aos setenta e três compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira naturaza, as plantas, as árvores, os pássaros, os peixes e os insetos. Em consequência, aos oitenta terei feito ainda mais progresso. Aos noventa penetrarei no mistério das coisas; aos cem, terei decididamente chegado a um grau de maravilhamento - e quando tiver cento e dez anos, para mim , seja um ponto ou uma linha, tudo será vivo." (Katsuhika Hokusai, séc. 18-19)

14.10.09

ENTRE FISSURAS E FENDAS NO TEMPO

ENTRE FISSURAS E FENDAS NO TEMPO .......................................................................... "NA ETERNA BUSCA PELO QUE É, POR SEU SIGNIFICADO E SEU PAPEL, O HOMEM, UM ÓRFÃO CÓSMICO, PRECISA SABER QUE A ESTRADA DEVE SER BUSCADA ACIMA DELE" ........................................................................................................... O órfão gritou em protesto, quando o frio do espaço nu lhe penetrou os ossos: " Quem sou eu?". E mais uma vez a ciência respondeu: "Você é uma criança trocada. Está ligado por uma cadeia genética, a todos os vertebrados. A questão é que você carrega no corpo e no cérebro as feridas ainda doloridas da evolução. Suas mãos são nadadeiras reformadas, seus pulmões vêm de uma criatura que arfava num pântano, seu fêmur foi aprumado á força. Seu pé é uma pata trepadora remodelada. Você é uma boneca de trapo recosturada com pele de animais extintos. Muito tempo atrás, 2 milhões de anos talvez, você era maior que seu cérebro. Não temos certeza de que era capaz de falar. Setententa milhões de anos antes disso, era uma criatura trepadora ainda menor, conhecida como tupaiideo. Tinha o tamanho de um rato. Comia insetos. Agora voa até a Lua. "Isto é um conto de fadas", protestou o órfão. "Eu estou aqui, vou olhar no espelho." "É claro que é um conto de fadas", disseram os cientistas, "mas o mundo e a vida também são. É isso que os torna verdadeiros. Viver é partir qualquer momento. É por isso que somos todos órfãos. É por isso que você tem que encontrar seu próprio caminho. A vida não é estável. Tudo que vive está tropeçando por entre fissuras e fendas no tempo, mudando á medida que ele passa. .................................................................................... (...) .................................................................................................... Você aprendeu a fazer perguntas. É por isso que é um órfão. Você é a única criatura no Universo que sabe o que o Universo foi. Agora você tem de continuar a fazer perguntas enquanto está mudando o tempo todo. Vai perguntar em que se transformará. O mundo já não o contentará. Você tem de encontrar seu caminho, seu próprio eu verdadeiro." "Mas como posso?", chorou o órfão , escondendo a cabeça. "Isto é magia. Não sei o que sou. Já fui coisas demais ." ................................................................................................... "De certo foi", disseram em uníssono todos os cientistas. "Seu corpo e seus nervos foram arrastados por todo lado e retorcidos no longo esforço de seus ancestrais para permanecer vivos, mas agora, órfãozinho que é, você tem de conhecer um segredo, uma mágica secreta que a natureza lhe deu. Nenhuma outra criatura no planeta a possui. Você usa a linguagem. ................................................................................................. Você é um malabarista de símbolos. ....................................................................................................... Tudo isso está escondido em seu cérebro e é transmitido de uma geração a outra. Você freia o tempo, em sua cabeça os símbolos que significam coisas no mundo exterior podem voar desimpedidos. Você pode combiná-los diferentemente num novo mundo de pensamento ou segurá-los obstinadamente durante toda uma vida e transmiti-los a outros." .......................................................................................................... De fato é assim, de palavras, de uma lufada de ar, que é feito tudo que é unicamente humano, tudo que é novo de uma geração para outra. Mas lembre-se do que foi dito sobre as feridas da evolução. O cérebro é muito antigo, pelo menos parte dele, pois as partes foram depositadas em sequência, como estratos geológicos. Profundamente enterrados debaixo do cérebro com que raciocinamos. .................................................................................................................................................. Loren Eiseley (1907-1977), antropólogo famoso, foi uma espécie de estranho no ninho da comunidade científica. Escrevia poesia e, sobretudo, dominava um eloquente estilo de prosa poética, bastante incomum entre os profissionais de sua área. Dois de seus livros, The Immense Journey (1957)(A imensa Viagem) e sua autobiografia, All the Strange Hours (1957) (Todas as horas estranhas). O presente ensaio "The cosmic orphan" (O órfão cósmico), aparece na 15° edição da Enciclopédia Britânica, como a introdução da parte quatro: "Human Life" (Vida Humana)