CULTURA DO PRAZER
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................Estou vestida com roupas coloridas, babados, costuras, rendas; meu cabelo está arrumado, a maquiagem cobre meu rosto como uma mascara, as jóias penduradas... as pessoas estão me olhando, analisando... Não, eu não estou encenando uma peça, recebendo um prêmio ou fazendo um discurso: estou atravessando a rua, e as pessoas que me olham não são espectadores, são pessoas como eu, personagens da vida real, e aqui nesta esquina todos temos o papel principal, desde o presidente do mundo que espera no sinal, ao malabarista que faz seu show no meio da rua. Todos fazemos parte do espetáculo; podemos estar na platéia no palco ou atrás dele, podemos estar na bilheteria ou limpando o chão, podemos escolher, ou acreditar que temos escolha.
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...........Hoje na sociedade que vivemos somos incentivados a acreditar na escolha; somos bombardeados com informações que se apossam de nossos sentidos, nos fazem ver, ouvir cheirar; devemos experimentar tudo, ter prazer em tudo, estar em todos os lugares, se fazer ver, e de preferência com um embrulho bem bonito que expresse o quanto sou coolt e informada, informada por este meio que nos modela em forminhas e nos enfeita com bolinhas coloridas de sabor artificial de qualquer coisa para depois nos colocar um rotulo que contem as informações sobre “minhas” escolhas, minhas passagens, meu conteúdo. Assim estou pronta para ser servida neste banquete que alimenta o espetáculo.
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Em meio a este banquete de ilusões que vivemos na realidade, eu escolho saborear, provar todos os sabores de todas as formas, viver o espetáculo, criar novos sabores, novas formas de conduzi-lo, novas fôrmas para esta massa; Viver no real o que me é oferecido no virtual. Concordo com o autor Vilém Flusser que diz: “Antes , o objetivo era formalizar o mundo existente; hoje o objetivo é realizar as formas projetadas para criar mundos alternativos” . Formalizamos o espetáculo, criamos ele; se não estamos gostando do que estamos vendo, podemos levantar do meio da platéia, gritar e mudar o foco, mas fazendo isso estamos apenas criando outro espetáculo, um espetáculo tumultuado cheio de duvidas e indignação; onde uns não entendem, outros aproveitam a brecha para também atuar , é esta a situação que nos encontramos. Olhamos para o palco e não vemos mais atores, eles estão infiltrados na platéia pois já não agüentam mais o velho texto de sempre; agora nós somos o espetáculo. Não há roteiro, basta sermos quem somos. Ai entra a busca por novas formas, novos signos; mas os velhos diretores ainda estão presentes, e catam no meio da multidão aqueles que se parecem com os velhos atores, aqueles que representam de forma mais original o velho texto.
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Mas e eu? E meu trabalho? Onde estamos?
Na verdade não vi o espetáculo 1°, cheguei atrasada, depois que o tumulto já estava formado. Não entendi nada, não conhecia ninguém, fiquei num canto contemplando uma imagem, imagem esta que reflete exatamente tudo o que esta no seu raio, todo o espetáculo, e ainda me coloca dentro dele.
Não quero mudar o “rumo” do espetáculo, propor uma nova re-significação ou apontar para novas direções. Proponho apenas que se coloque um espelho no palco e deixem as pessoas ver o que elas mesmas projetam, o espetáculo que nós mesmos criamos, este é o show. Vamos gozar juntos estas imagens projetadas e distorcidas pela nossa imaginação. Eu convido as pessoas a viver o espetáculo, se entregar a virtualidade do pensamento construindo um prazer que é real.
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MARCIELI PAHISN COMPAGNON
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(Ensaio a partir da leitura do livro "SOCOEDADE DO ESPETÁCULO" - Guy Debord)
Miau
- Marcieli Pahins Compagnon
- São Paulo, SP, Brazil
- "Cada um sabe o quanto de verdade pode suportar" SP (11)72455417 / RS(51) 97355146
"Desde a idade de seis anos eu tinha mania de desenhar a forma dos objetos. Por volta dos cinquenta havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo que produzi antes dos sessenta não deve ser levado em conta. Aos setenta e três compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira naturaza, as plantas, as árvores, os pássaros, os peixes e os insetos. Em consequência, aos oitenta terei feito ainda mais progresso. Aos noventa penetrarei no mistério das coisas; aos cem, terei decididamente chegado a um grau de maravilhamento - e quando tiver cento e dez anos, para mim , seja um ponto ou uma linha, tudo será vivo." (Katsuhika Hokusai, séc. 18-19)
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